Prefiro ter os olhos vermelhos e as lágrimas a escorrer pelo rosto. Um pico no nariz a avisar que um espirro se aproxima (ou uma sessão deles). Os olhos semicerrados como se estivéssemos a ver Cristo que desceu à Terra. Os bolsos cheios de lenços de papel ranhosos e amassados (dão sempre jeito quando não se encontra um rapidamente)...

Antes da viagem, examino bem o meu transporte. O título é a primeira coisa que leio. Onde me levará? A contracapa dá-me algumas pistas e espreito pelo autor nas orelhas. O índice é como ler um mapa de estradas.

Todos temos, pelo menos, uma cor que preferimos. Um livro, um número e até uma cidade. E uma letra? Quem será que tem uma letra preferida? Nunca ninguém me perguntou isto! Pensei na letra "C": de conquista, de comunicar, de consigo, de contigo.

Numa perfeição incrível, lá estava ela. Bem desenhada e olhar para mim, mesmo no centro do lavatório. Ainda pensei que os meus olhos me estivessem a enganar. Não lhe liguei nenhuma e fui à minha vida.

Dou um passo e ela foge. Dou outro, e ela torna a fugir. E outro. Agora vou enganá-la. Darei um passo tão grande que a ultrapassarei e ficarei diante dela. Não consigo. Ela tornou a fugir.

Na estrada, podia ver as copas das árvores a beijarem-se da mesma forma que beijou Guilio antes de sair: suavemente. Algumas, muito timidamente, tentavam aproximar-se e formar um túnel verde só para Amélia passar.

Acabei de falecer. O meu corpo ainda está quente. Ou talvez deva dizer morno? Não tardará, estará frio. Frio, rígido e azulado. Não sei se ficará azulado. Afinal, eu morri de quê?

Camila já caminhava há algum tempo. Levava uma cesta pesada e ainda lhe faltava meio caminho. Sentia que talvez não conseguisse chegar ao destino com tanto peso.

Mais uma vez, a perspetiva.
Ou o ponto de vista
O ponto de partida
E o ponto de chegada
O ponto de encontro
O ponto de interrogação
E até o ponto de exclamação
Um ponto interessante
Um ponto em comum
O ponto de viragem
O ponto gatilho
Um ponto sem nó...

Ele vi-a pelo espelho. Fixava-a intensamente enquanto se vestia. Ela cuidava do cabelo, fugia com o olhar e sorria.

Ao início da tarde, sentei-me para sentir o Sol. Apenas fechei os olhos. O meu corpo aqueceu. As bochechas ficaram rosadas e quentes.

Uma colher de sopa de ervilhas. Lembro-me de outras palavras que interrompem a minha concentração. Distraio-me e coloco mais uma colher de sopa de ervilhas.

Sem que ninguém esperasse, a semente de uma macieira vingou. Cresceu e tornou-se uma bela árvore. Ainda era jovem, mas já assumia uma beleza que se destacava das outras árvores. As suas folhas verdes e viçosas aumentavam a cada dia. Em pouco tempo, ela ocupava um espaço que não lhe estava destinado. As suas raízes eram fortes e o seu...

Adoro pão de Deus. Especialmente do coco, mesmo no centro do bolo. E se tiver húmido, melhor. Comprei um destes bolos com nome de pão e, como sempre, comecei por comer as bordas. Nem uma trinca na parte do coco. Como já disse, adoro coco, por isso, deixo-o para o fim. Quando finalmente cheguei ao centro do bolo, cheio...

— Abra a boca. Não tem infeção. Nem tem as amígdalas com pus. — Concluiu o médico observando a minha garganta a dois metros de distância e sem sequer me auscultar.