Viagem num livro

23-04-2023

Antes da viagem, examino bem o meu transporte. O título é a primeira coisa que leio. Onde me levará? A contracapa dá-me algumas pistas e espreito pelo autor nas orelhas. O índice é como ler um mapa de estradas.

Enquanto giro o livro em vários sentidos, vão-se soltando os aromas do papel. Sabem, nem todos cheiram ao mesmo - uns com um cheiro suave e fresco, mas muito característico e outros com um odor forte e intenso de um livro mais antigo. Por último, examino a textura das folhas. Gosto de folhas ásperas e grossas.

Respiro fundo e estou pronta para começar a viagem. Como sou eu que conduzo, começo sempre lentamente, com muita atenção. Fico expectante. De repente, tudo desaparece. A minha visão periférica deixa de funcionar. Foco em cada linha, em cada palavra, e os meus sentidos apuram-se. Deixo de saber em que página estou. Isso já não interessa. Já estou a viajar e só me importa o caminho. De vez em quando, a respiração acelera, ou então, esqueço-me de respirar.

Se um livro não me fizer sentir isto, fecho-o e é pouco provável que o volte a abrir. Às vezes, acontece-me o mesmo com algumas pessoas.