A dúvida
Acabei de falecer. O meu corpo ainda está quente. Ou talvez deva dizer morno? Não tardará, estará frio. Frio, rígido e azulado. Não sei se ficará azulado. Afinal, eu morri de quê?
Será que me mataram? Ou foi morte
natural? Não tem marcas o meu corpo. Pode ter sido doença. Esquece, sempre fui
saudável. Espera, já sei... foi um acidente. Ando sempre de cabeça no ar, só
pode! Mas se foi de acidente, como terá sido? Olha para mim. Até parece que
estou a dormir. Os meus lábios estão rosados. E um certo brilho na minha pele,
deixará dúvidas até ao agente funerário. O homem da funerária não me tocará!
Primeiro, que seja o médico-legista. Quero que ele se certifique que morri. Certamente
auscultará o meu coração. E se duvidar, uma autópsia. Que parvoíce… nunca
me farão uma autópsia sem certezas de que morri. E se eu estiver viva? Um sopro
no meu nariz, um beliscão, um grande susto, ou mesmo uma pequena facada na
minha perna para terem a certeza. Endoideci. Estou morta, mas posso estar viva.
E como estou morta, não posso certificar-me se ainda estou viva. Pronto, sou
uma morta-viva.
Se pelo menos alguém entrasse aqui para me ver neste leito, onde repouso, antes de ir para a minha última morada. Entrariam em choque ao perceber que morri. Um abraço caloroso, depois de alguns abanões. As lágrimas dos meus entes queridos cairiam sobre mim. Talvez me fizessem respiração boca a boca ou uma massagem cardíaca para me ressuscitar.
- Cristina, levanta-te. Está na hora. Hoje é o dia do...