A árvore
Sem que ninguém esperasse, a semente de uma macieira vingou. Cresceu e tornou-se uma bela árvore. Ainda era jovem, mas já assumia uma beleza que se destacava das outras árvores. As suas folhas verdes e viçosas aumentavam a cada dia. Em pouco tempo, ela ocupava um espaço que não lhe estava destinado. As suas raízes eram fortes e o seu tronco robusto. Ia crescendo serenamente e com imponência. E, em cada estação, era cada vez mais notada. Mesmo no inverno, quando perdia as suas folhas, mantinha-se firme e imponente. Ela sabia que em breve voltaria a ficar toda coberta de novos rebentos.
E assim aconteceu. Era primavera e a árvore brotava novas folhas por todos os galhos. Alguns pássaros pousavam nos seus braços firmes. Insetos abrigavam-se no seu tronco. A sua sombra protegia outras plantas mais pequenas. Os botões rosados que surgiam, já deixavam adivinhar uma nova floração.
Um dia, a árvore deu frutos. Muitos frutos. As maçãs eram lindas e saborosas. Vermelhas e doces. A árvore sabia que era admirada. E quanto mais elogiada era, mais maçãs cresciam dos seus galhos. Tornou-se famosa e a sua fruta era muito procurada nas redondezas. Durante anos produziu lindas maçãs. Sempre firme e sem se curvar ao vento forte do inverno.
O homem começou a cuidar muito mais da macieira do que das outras árvores do pomar. Julgava que era obra sua, mas ao mesmo tempo pensava no que teria feito de diferente para que esta fosse melhor do que as outras árvores. Teria sido a terra que fertilizou? Ou a rega adequada? Por mais que tentasse encontrar uma diferença no tratamento, não conseguia. O importante é que a sua macieira lhe dava lindas maçãs e ele via-a como a sua "galinha dos ovos de ouro". Continuava a cuidar da sua árvore favorita e acabou por se descuidar com as outras.
Com o tempo, começou a ter pouca colheita. Apenas muitas maçãs. Pobre homem! A sua tristeza era grande e não compreendia por que razão as outras árvores deixaram de produzir bons frutos. Se ao menos ele soubesse o que tinha feito para que a macieira produzisse tão boas maçãs, poderia fazer o mesmo com as outras árvores. Desesperado, contratou um especialista em macieiras. Pediu-lhe que tentasse perceber o motivo de só uma árvore dar fruta saborosa e abundante quando as outras não davam quase nada. Intrigado, o especialista, fez vários testes no pomar, mas não conseguia encontrar a causa de tantas diferenças na colheita. No entanto, recomendou-lhe que cortasse a macieira. O homem não conseguia acreditar. Como iria ele cortar a sua melhor árvore? E como isso iria resolver o problema das outras árvores do pomar?
No dia seguinte, o homem decidiu fazer o que o especialista lhe recomendou. Aproximou-se da sua árvore preferida e, antes de a cortar, deu-lhe um abraço. Um grande abraço. Deslizou com a suas mãos ásperas no tronco delgado. Olhou para ela com admiração e sorriu-lhe.
Naquele momento, entendeu tudo. Deu dois passos atrás e, com força e determinação, começou a cortá-la. Com as sobrancelhas franzidas e os dentes cerrados, o suor escorria-lhe pelo rosto e golpeava a árvore com vigor. Um gemido a cada golpe. Nem um chilrear dos pássaros se ouvia, só as batidas da dança do machado e as folhas que se agitavam. De vez em quando, balançava e ameaçava cair sem amparo. O homem parou. Limpou o rosto com as costas da mão direita, respirou fundo, e deu-lhe o último golpe. Caiu. O som foi assustador para os pássaros que se escondiam nas outras árvores. Por breves instantes, o homem descansou ao mesmo que tempo que contemplava a árvore que tinha acabado de matar. Um vazio deu lugar à bravura, mas já estava feito. Tinha de continuar. Cortou o tronco em toros e cobriu-os. Já um pouco curvado, de machado nas mãos, endireitou o chapéu e partiu sem culpa.
A macieira era uma árvore comum. O surgimento inesperado da macieira chamou a atenção do homem que acabou por cuidar mais dela do que das outras. Tudo aquilo que damos a nossa atenção tende a crescer.